Dicas para a Familia

A família é fundamental para o sucesso do tratamento da dependência química. Pensar que tudo se resolverá a partir de uma internação ou após algumas consultas médicas é uma armadilha que não polpa a mais sincera tentativa de tratamento.
A dependência é um problema que se estruturou aos poucos na vida da pessoa. Muitas vezes, levou anos para aparecer. Muitas coisas foram afetadas: o desempenho escolar, a eficiência no trabalho, a qualidade dos relacionamentos, o apoio da família, a confiança do patrão, o respeito dos empregados. Como esperar, então, que algo presente na vida de alguém há tempo e que lhe trouxe tantos comprometimentos desapareça de repente? Quem decide começar um tratamento se depara com os sintomas de desconforto da falta da droga e, além disso, com um futuro prejudicado pela falta de suporte, que o indivíduo perdeu ou deixou de adquirir ao longo da sua história de dependência.

Porque a família é importante para o tratamento

Todos podem ajudar: o patrão, os amigos, os vizinhos, mas o suporte maior deve vir da família. As chances de sucesso do tratamento pioram muito quando a família não está por perto. Veja porque a família é tão importante:

1. O dependente muitas vezes não tem a noção completa da gravidade do seu estado. Por mais que deseje o tratamento, acha que as coisas serão mais fáceis do que imagina. Por conta disso, se expõe a situações de risco que podem levá-lo de volta ao consumo.

2. O dependente sente a necessidade de 'se testar', expondo-se a situações de risco para ver se seu esforço está valendo a pena. A família deve ajudá-lo estabelecendo com o dependente regras que ajudem a afastá-lo da recaída. Todo o tratamento começa comum mapeamento dos fatores e locais de risco de recaída. A família deve ajudar o dependente a evitar esses locais. Isso não deve ser feito de modo policial. Não se trata de fiscalizar. Trata-se, sim, de chamá-lo à reflexão e a responsabilidade sempre que esse, sem perceber ou se testar se expuser ao risco da recaída.

3. O dependente sente dificuldades em organizar novas rotinas para sua vida sem as drogas. O dependente de drogas precisa de apoio para superar as dificuldades e estabelecer um novo modo de vida sem drogas. Vários fatores interferem nessa tarefa. A pessoa pode estar fora do mercado de trabalho há muitos anos, desatualizada e sem contatos que lhe proporcionem voltar em curto prazo. Pode ter saído da escola muito jovem e agora está pouco qualificado para um bom emprego. Há dificuldade em se relacionar com as pessoas, agüentar as frustrações, saber esperar a hora certa para tomar a melhor atitude. A autocrítica do dependente por vezes é dura consigo mesmo. Deixa um clima depressivo e de fracasso no ar. Isso pode fazer com que os planos para o tratamento sejam deixados de lado.

4. A família no tratamento mostra que o diálogo ainda existe. A rotina da dependência química traz ressentimentos para todos. Muita roupa suja vai ser lavada. No entanto, é preciso entender que se trata de uma doença. Em um primeiro momento a motivação do dependente para a mudança e do apoio da família para mantê-lo motivado são importantíssimos. Isso demonstra que a família ainda é capaz de se unir, conversar e resolver seus problemas. Quando o momento de ir para o tanque chegar, todos estarão fortalecidos e o assunto será tratado com mais ponderação e menos emoção.

Força aí!


Há vários motivos que estimulam o indivíduo a procurar ajuda e desejar a mudança. Sentir que a família o pressiona ao tratamento, a chegada de prejuízos sociais (possível perda do emprego, condenação por contravenções penais, perdas afetivas) e clínicos são alguns deles. O tratamento forçado pode ser eficaz. Muitos pacientes que chegam para o tratamento por 'livre e espontânea pressão' acabam percebendo que a abstinência lhes traz ganhos muito maiores que os tinham quando usavam drogas.

Que força é essa?


Forçar a barra pode ser bom. Mas que tipo de força é essa? Com certeza, não se trata de pegar a pessoa 'na marra' e interna-la, tampouco lhe dar a singela opção de "ou vai se tratar ou sai de casa". Forçar alguém ao tratamento significa não compactuar mais com os comportamentos da dependência. Com a doença da pessoa não há diálogo possível! Muitas pessoas dizem: "Meu marido (poderia ser meu filho, minha filha, minha mulher, meu pai, minha mãe) é muito gente boa, mas quando usa drogas muda completamente, fica agressivo, tira coisas de casa, parece uma outra pessoa". É exatamente isso. O dependente tem várias facetas, comportamentos que se modificam o tempo todo.

Eu tenho direito de forçar a barra?


A tal da culpa. Como já foi dito (A família e o tratamento), a culpa trava o diálogo e impede o tratamento. Ela faz com que a família e o dependente percam o foco. Problemas do passado são evocados para justificar a situação atual. Sim, talvez eles de fato tenham interferido e muito provavelmente terão de ser abordados e resolvidos futuramente.

Por exemplo, pais que sempre viveram afetivamente distantes dos filhos. Deram-lhes tudo o que necessitavam materialmente, mas não souberam colocar limites às suas necessidades. Os filhos não aprenderam o que é se frustrar.

Fora de casa, porém, eles percebem que não podem simplesmente ser o que querem. Eles se frustram, mas nunca tiveram que lidar com isso. Consumir drogas pode vir a ser uma solução para alguns. No fundo os pais percebem que deveriam ter ensinado isso aos filhos antes, mas agora é tarde...

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